16 de janeiro de 2009

Bicicleta = liberdade

Comentário da Mariane na lista da bicicletada sobre esta matéria publicada na folha de hoje.


Milton Santos dizia umas coisas bem interessante sobre isso...hoje a sociedade globaritária impõe suas regras... e nós que não aceitamos essa imposição somos tratados como seres de outro planeta e até mesmo seres invisíveis!

Esse negócio de ciclovia é "tão imbecil", parece coisa de gente tonta... me transmite a idéia de ficar "trancado" num lugar, num cercadinho... é isso que eles querem fazer, trancar os ciclistas num cercadinho... bicicleta remete a liberdade... você pode ir onde quiser a hora que quiser... só fazendo bem à você mesmo...

Mas sabe, no fim a bicicleta não combina com o que a globalização vende hoje. A lei do menor esforço... sente, assista programas idiotas, engorde, depois vá, se tranque em uma academia e perca quilos, gaste também seu dinheiro em salões de estética, etc etc... uma beleza inventada, pessoas inventadas, uma sociedade inventada. É por isso que não podemos parar! Precisamos mostrar que é diferente! =D

Bons ventos!

Mariane

Desabafo da JuMmmmm

Para quem nunca participou, talvez ajude a entender um pouco o que se passa na bicicletada.


Pessoas queridas,

Há algum tempo que ando aparecendo pouco, na lista e nos encontros. Desnecessário enumerar motivos e razões... Nestes últimos dias aconteceram tantas coisas, e tantos pensamentos vieram à tona... Esta vida tem os seus caminhos imprevisíveis, e como muitos de nos eu também andei percebendo e repensando alguns valores, algumas atitudes. Repensando pensamentos.

Cheguei na bicicletada para juntar-me ao grupo que admite que isto tudo mudou muito a minha vida. Sempre vêm novas descobertas, novos aprendizados, novas pessoas, novos afetos... Aprendo muito sobre o mundo, sobre as relações humanas, sobre quem eu sou e como ser no meio de toda a bagunça que é este universo. Esta cidade tão louca...

Tantas coisas que vêm à cabeça e que eu não digo, tantas vezes que falo coisas desnecessárias e supérfluas, tantos abraços que deixo passar, mensagens que deixo de responder, ligações adiadas...

Aqui faço amigos que são de outra nova natureza, outro tipo de conexão.

Nunca perdi gente próxima, e esta irreparável perda neste fatídico 14 de janeiro, da forma como aconteceu.... Me fez enxergar tantas tantas coisas. Todo o valor e o amor que eu dedico aos meus queridos bicicletantes, e a todos os amigos na vida estão gritando em mim, e quero que gritem sempre. Não posso me esquecer de como é incrível a vida, como são lindas as possibilidades e como os segundos são essenciais e densos e imperdíveis. Pra onde é que vamos caminhando-pedalando....?

Aprendi muito com a Márcia, como aprendo muito com todos vocês e amo todos com força e dedicação imensuráveis. E isto tudo é tão frágil. Vocês são uma parte de mim e uma grande familia que eu amo fazer parte. Quero cuidar e me sinto cuidada. Confio muito nestes malucos que me levam para aventuras que eu não concebia. Vivemos coisas que só quem pode participar sabe... e sou muito grata.

Quanto à aventura de pedalar nesta bagunça, não tenho escolha e vamos fazendo como podemos. E podemos. E devemos. Mas como será daqui para frente? Gostaria de poder proteger cada um de nos, cada um dos meus amados, pra enfrentar a violência que é a vida. Enfrentar a cidade inacreditável...

Pensamentos....
Tantas coisas.

Queria poder proteger.

Sinto muita falta já, nunca vou me esquecer da Márcia.

Amo muito vocês, meus queridos amigos, que tanto me fazem evoluir.

Coragem! Cuidado! Força!

Sintam-se abraçados e beijados, amor e afeto transbordando pelos poros,

Cheia, cheia, cheia de tristeza,

JuMmm

É um problema de todos

Veja que tudo o que se disse sobre a péssima relação entre motorizados e bikes é aplicável a pedestres, também. No mesmo dia, na mesma avenida, dois pedestres foram atropelados. Um deles morreu ali mesmo na rua. Portanto, enfie na cabeça: o problema é de todos. Não é problema de um grupo de ativistas. É problema de toda a cidade. É um problema social e cultural, acima de tudo. Simplesmente com respeito humano, mesmo com as ruas inadequadas que temos, crueldades gratuitas já não aconteceriam. Seriam evitáveis com um pouco a mais de civilização.



Leia mais neste endereço.

15 de janeiro de 2009

O melhor domingo chuvoso e frio

O primeiro passeio da Márcia com a bicicletada foi no benfadado passeio pra Sorocaba que acabou no Embú. No dia seguinte ela escreveu pro Mestre Márcio Libélula (segunda parte) e acabou extendendo o agradecimento para lista (primeira parte).




Quem não foi ao Embu nesse domingo chuvoso ? Eu Fui...

Agradeço a todos pelo domingo beeeem diferente! Adorei o passeio, foi demais!Prometo treinar mais para não interferir na velocidade do grupo nas próximas aparições... e especial obrigado ao xará, meu "motor reserva" que me fez voar!!!

Valeu!

Márcia

Querido xará de nome e geriatra (hehehe!). Foi o "melhor domingo chuvoso e frio" da minha vida, foi muito bacana conhecer o pessoal e vencer esse baita desafio. Desde que começou a história de Sorocaba fiquei na pilha de ir, mas sempre temendo a velocidade do grupo. Fui acompanhando as trocas de mensagens, os mais cautelosos e os mais desencanados, e eu pensando se daria ou não. Quando concluí que daria conta da km, mas não da velocidade, coloquei meu nome na lista com o aviso que era lenta, esperando os comentários. Como foi tudo bem, desencanei e fui embora. Naquele momento em Osasco, quando falei que voltaria, é pq realmente achei que minhas subidas estavam muito aquém da galera. Que bom que vcs deram uma força e eu resolvi ir.Adorei vcs se revesando no "fundão" para me acompanhar, adorei a velocidade do "guincho", acho que o único momento de medo mesmo foi quando passamos por aquele carro estacionado no túnel, acho que se tivesse mais 1 milímetro de quadril teria arrancado o espelhinho dele (hehehe). Desde antes da bicicletada estava olhando os grupos de pedal, tenho uma cliente que pedala e ficava trocando idéias com ela, mas o que mais gostei desse grupo, que conheci na bicicletada, é essa mistura de prazer com pedal. Já "passei da idade" da performance, quero sim superar meus limites mas com prazer, não de olho no relógio ou em metas absurdas. Óbvio que pretendo pedalar com vcs "com minhas próprias pernas", mas não me senti diminuída pelo reboque, pelo contrário, achei de um companheirismo ímpar que só me fez gostar mais do grupo.Tenho vontade de participar dos pedais noturnos, o problema é que geralmente estou trabalhando no horário que vcs começam. Meu trabalho começa quando as pessoas saem do trabalho... tenho mais disponibilidade durante o dia que à noite, mas quando der pode ter certeza que aparecerei!Por último, e não menos importante, FELIZ ANIVERSÁRIO!!!! Fique frio que mais 3 meses voltaremos a ser xarás na idade tb!!! hehehe.bjão,Márcia

Olhos recém nascidos em luto

Não conheço a dona deste blog, mas assino embaixo.


Eu imagino um mundo sem carros. Com ruas largas e bicicletas, muitas bicicletas. De todas as cores e formas. As pessoas usariam chapéu panamá andando de bicicleta. Crianças pra lá e pra cá, teriam bicicletinhas de luz. Madames com seus poodles e patrões ouvindo notícias no rádio andando de bike pelas vielas, subindo ladeiras quase sem ar, descendo a milhão, com aquela puta sensação de voar.

No mundo sem carros, o tempo seria outro. As pessoas a pé se olhariam. As pessoas de bike se olhariam. Entre o tempo de saída e o tempo de chegada existiria o tempo da caminhada, da pedalada. De olhar pro outro e pro lugar onde vivemos. De ver o céu, as árvores, as casas, as estrelas. O deslocamento seria algo essencial, de encontro, de respiro, de preparação, de passeio, de conhecimento. Chegar seria bem mais gostoso.

No mundo sem carros, captaríamos muito mais o senso do coletivo. Sairíamos das nossas caixas individuais motorizadas e com ar-condicionado. Não dá pra negar: tá todo mundo aqui, vivendo neste mesmo caos. Transitamos nas mesmas ruas e avenidas. Carros, motos, ônibus, bikes, skates, pessoas a pé. Somos todos seres humanos por trás destas máquinas, temos a obrigação de encontrar alguma harmonia. Ou não? Ou organizamos essa porra ou começamos mesmo a passar por cima uns dos outros, sem nem olhar pra trás. A escolha é nossa.



* Este texto eu dedico para a Márcia, da bicicletada, que eu nunca terei a oportunidade de conhecer.

Canna em luto

Tá difícil de acreditar.

A gente no dia-a-dia, se acostuma com o risco de andar de bicicleta em SP, de viver nesta merda. Eu acreditava que era possível usar este meio de transporte, mas isso que aconteceu com a Márcia não vai me deixar pedalar tranquilo. Eu não consigo.

Puta que pariu, só Deus sabe porque coisas assim acontecem e peço a Ele que proteja os nossos caminhos, peço que vocês se cuidem no trânsito, pensem que qualquer dia pode ser o último passeio, a última bicicletada, a última vez que vc vê seu pai, sua mãe. Por quê tem que ser assim, POR QUÊ?

Eu perdi uma amiga, um nova amiga e de verdade...é difícil ver uma mensagem na sua caixa de emails de alguém que não está mais aqui!

Sei que é um momento de emoção mas, senti o quanto vocês da bicicletada, que às vezes vejo uma vês por mês e olhe lá, são importantes para mim.

Só consigo pensar na manhã do dia 1º de Janeiro,no nosso encontro ciclístico no centro em que vimos aquele raiar de dia lindo, no topo do prédio. Voltei com ela até o Ipiranga, pedalando pela Avenida Paulista que seria onde ela pedalaria seus últimos metros neste mundo.

Eu não tô legal não. Tô muito confuso e preciso pensar no que realmente importa na vida...isso não foi justo, mas quem sabe de nosso destino é algo superior que não erra - e temos que nos amparar nisso para seguir a vida.

Tchau moça do capacete vermelho.

Canna

João em luto

Jamais imaginei que um de nós morreria assim, na avenida que é mais nossa do que qualquer outra. Ainda mais a Márcia, tão prudente. Objetivamente não sabemos ao certo o que aconteceu, mas só a morte é definitiva e foi isso que tivemos.

Tremia minhas pernas subindo pela Teodoro em direção a paulista. Não queria acreditar, era como se fosse mesmo uma parente, era como se fosse eu mesmo, ou uma pequena parte que ia com ela. Mas ao chegar o que chamou a atenção não foi um corpo coberto, mas uma bicicleta que permanecia em pé, quase intacta, apenas com a corrente que saltou das coroas.

Com o passar dos acontecimentos foi isso que senti. Morremos todos, morreu um pedaço de cada um de nós que pedalamos por São Paulo. Mas a bicicleta e a bicicletada permaneceu em pé. E já estavam presentes alguns amigos da bicicletada. Algum tempo depois, enquanto o IML recolhia o corpo a chuva caia forte, como que para lavar o asfalto. O vento trouxe o cheiro de sangue para não nos deixar esquecer que era uma vida que havia sido perdida.

Foi muito triste, mas não chorei. Avisei a uma amiga dela por telefone e senti-me culpado pelas lágrimas que comecei a ouvir do outro lado, lágrimas de incredulidade. Logo essa amiga avisou outras e uma mobilização se formou nesse outro núcleo. O grupo se dividiu e fomos alguns para a delegacia. A mesma 78 DP nos Jardins que já estivemos antes. Seguimos eu e o Albert a bicicleta da Márcia, pendurada em uma viatura da PM, chegamos antes, afinal a bicicleta é o veículo urbano rápido que conhecemos. Mas essa pequena vitória não nos valeu muito.

Tudo entrega à polícia, fomos ao IML e lá estavam amigas e uma tia. Foi triste, mas comecei a ver então a beleza maior da bicicletada. E ao chegar na Praça me emocionei de novo, por ve-la já com vários ciclistas reunidos. Os abraços foram doloridos, mas mostraram aos poucos que a Márcia partiu, mas que o grupo se reuniu.

Antes, no meio da tarde achei que um pouco de nós se foi com ela. Agora acredito que ela está um pouco em cada um de nós. Quero me lembrar dela pela alegria, pelo prazer que tinha em pedalar. E creio que é assim que ela gostaria. Perdemos sim uma amiga, mas ao mesmo tempo, ganhamos um trágico motivo para nos unirmos ainda mais e seguirmos nossa luta para que nossas ruas sejam mais seguras para todos. Conhecidos ou não, ciclistas ou pedestres.

Um abraço em luto, mas firme e forte mirando o olhar no futuro.


João Guilherme Lacerda

Luto

” Mas venho sugerir uma alteração na camiseta da placa “tradicional”, onde não mexeria no desenho, mas escreveria em letras grandes, acima do desenho: “AFASTE-SE!”. Porque às vezes tenho a impressão que os caras ignoram o desenho, nem reparam nele. Será muito otimismo de minha parte achar que o cara, ao ler o texto, vai prestar atenção ao desenho e deduzir que ele tem que manter ALGUMA distância do ciclista? Nem precisa ser 1,5m. Se ele der 20cm eu já fico feliz!
Enfim, pitaquinho.

Abs,
Márcia"





Márcia Regina de Andrade Prado, 40, massagista, ciclista, primeira dama das rodas fixas paulistanas, minha amiga, mais uma vítima da imbecilidade humana. Nunca vi ela de mal humor, nunca vi ela sendo grossa com alguém, sempre uma presença tranquila e bem vinda. Descanse em paz.





Homenagem:

QUINTA (15/10), às 18h, na Praça do Ciclista




Bicicletada da Memória: Márcia Prado

SEXTA (16/10), às 18h, na Praça do Ciclista






Outras homenagens e informações nos links deste post.

14 de janeiro de 2009

Feist

Incrível. É só mais um rostinho bonito, mas, junto com Strokes e Amy Winehouse, é o que há de melhor na música pop de hoje.

Compoe suas próprias músicas, toca guitarra melhor do que eu e, o mais importante, canta muito. Não tem uma voz incrível, é muito limpinha (a voz, que fique bem claro), leve, mas o que falta em peso sobra em sentimento. Podem falar que é heresia, mas ela cantando me lembra o Stevie Ray Vaughan tocando guitarra.

One evening tem a melhor coreografia que já vi, acho que a JuM e o Albert vão gostar também, puro free dancing. 1234 é bonitinho, mas eles não me enganam: não é um único take nem a pau. I feel it all é um único take, muito legal, ela deve ter sofrido pra gravar. Em Secret hart fica mais claro o feeling que ela tem. O clipe de Honey honey é pra quem gosta de bonecos ou gosta de animações, começa meio o velho e o mar, vira Dorival Cayme, passa por Pinocchio e termina meio ladrão de sonhos.

13 de janeiro de 2009

As ruas sustentáveis de Nova Iorque

Sempre achei que boas mudanças acontecendo no centro do mundo são bons sinais para todos. Em geral, o centro gira mais devagar do que as borda. Quando acontece lá, é porque já era, vai se espalhar para todo lugar.

Parece que agora, muito depois da Europa e muito antes das terras de Pindorama, Nova Iorque está se tornando uma cidade mais humana, amiga das bicicletas.

Veja neste vídeo de 3:37 minutos do Sérgio Abranches como a ciclista maluca comissárias de transportes da cidade, Janette Sadik-Kahn, tirou do automóvel algumas importantes ruas e as transformou "em espaços públicos, controlados por pedestres e ciclistas". Até a emblemática Madison Square foi salva e voltou a ter vida.

E não para por ai: bilhões de bicicletários e estacionamentos de bicicletas serão implantados.

Yes, we can!!