10 de setembro de 2009

A bicicleta, o capacete e a vida

A discussão sobre o uso do capacete é muito interessante. Não depende só de fatores objetivos e geralmente contradiz o senso comum.

Ele é feio, esquenta, tem que ser carregado e é caro (custa mais ou menos uma barra forte).

Mas por outro lado, qual é a necessidade dele para uma pessoa que ande suavemente pela cidade?

A principal ameaça que sofrem os ciclistas vem dos automóveis conduzidos por pessoas mal preparadas ou assassinas em potencial. Por estes desconhecerem a lei, mas principalmente por não conseguirem enxergar a vida que se locomove pacificamente em duas rodas e sem motor.

Ciclistas aos poucos vem ocupando mais a paisagem urbana, mas ainda são enxergados como exóticos ocupantes de um espaço inglório.

O blog português Menos um carro, que sempre manda muito bem, roubou frases soltas do Mário Alves, "especialista e consultor em mobilidade com destaque para a mobilidade suave". E como ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão, destaco as partes que mais gostei:


Porque é que será que países que têm metas de segurança rodoviária mais rigorosas que as nossas [Portugal], nunca adoptaram a obrigatoriedade do uso do capacete? Porque fizeram contas e estudos sérios sobre o assunto e não basearam a produção legislativa no senso-comum.

A British Medical Association, comparou a perda de vidas por acidentes de bicicletas com os ganhos de anos de vida através da melhoria da saúde do ciclista regular e concluiu que cada vida perdida em acidentes de bicicleta, 20 são ganhas por melhorias de saúde e condição física de quem pedala regularmente.

Como nos poucos países em que foi introduzida legislação para a obrigatoriedade do uso do capacete, tiveram reduções entre 20 a 40% do uso da bicicleta (conforme a faixa etária), o ganho de vidas que o capacete poderia conseguir, não compensa as percas para a saúde dos que deixaram de pedalar.

E ainda não estamos a contabilizar os ganhos para a saúde pública da redução das externalidades devido à diminuição de quilometragem em automóvel.


A promoção do capacete pode aumentar a percepção de que a bicicleta é um meio de transporte perigoso, diminuindo assim a apetência ao seu uso: "...o desincentivo ao uso da bicicleta tem consequências bem mais negativas para a saúde pública, que o aumento do uso da bicicleta sem capacete."

“Ciclistas estão mais seguros quando agem e são tratados como condutores de veículos.” John Forester.


Bem, particularmente, vou continuar andando com capacete. Espero não sentir essa necessidade por muito tempo.

6 comentários:

Rakal D'Addio disse...

Ok. Entendemos. Na bicicleta, você é um cidadão pacato e ordenado, andando para lá e para cá com sua buzininha totalmente malandra e nada desabonadora. Mas e no volante?

Silvio Tambara disse...

Quase isso. Uma bicicleta é um veículo muito mais feliz do que veículos automotores. Não polui, não faz barulho, não ocupa muito espaço, é divertido. Tem muito pouca chance de matar alguém. Quando estou ao volante me transformo nisto aqui: http://www.youtube.com/watch?v=mZAZ_xu0DCg

Anônimo disse...

A maior ameaça são os motoristas, mas também com a bicicleta cai-se sozinho. Eu mesmo já caí e o capacete ajudou bastante.

Sem contar uma vez que com a fixa descia uma ladeira rapidamente e não consegui desviar de uma revoada de pombos. Foi só abaixar a cabeça (devidamente protegida com seu casco). Abati uns três pombos, mas continuei intacto,hehehe

Silvio Tambara disse...

Com certeza, cai-se sozinho. Mas se o transitar fosse mais tranquilo, correríamos menos riscos de fazer cagada. A trinta por hora tem-se menos tempo pra escapar de encrencas, como pombos (sensacional essa!), e a queda é forte. A dez pode até acontecer alguma coisa, mas é difícil

Rakal D'Addio disse...

hahahaha. sensacional.

iglou disse...

Tinha um adesivo que dizia assim:
"eu uso capacete pra que você possa dirigir como um imbecil."
Eu não uso capacete.