Obrigado, seus pestes

A turma do 9ºB me presenteou com a oportunidade de ser o paraninfo deles.

Obviamente, tentei fazer um discurso que transmitisse todas as emoções deste ano maravilhoso. Queria mostrar como as contradições se completaram para mim.

Mas, além de ser difícil colocar isso em palavras, falar em público não é fácil, mesmo para um professor. Li tudo o mais rápido que pude e voltei pro meu lugar, olhando pro chão. Não consegui sentir direito como foram recebidas minhas palavras.

Mas tudo bem. Faz parte.

Eis meu discurso.



Toda quinta de manhã eu verificava se não estava com algum sintoma que justificasse faltar ao trabalho. Por que quinta-feira? Era dia de duas aulas no nono B. Aquela gente que falava pelos cotovelos, que não conseguia parar sentada, que tacava coisas nos outros, que tinha dificuldade de olhar para a lousa. Não vou mentir pra vocês, não foi fácil.

Um certo dia, uma aluna me perguntou, com certo orgulho, já esperando a resposta: “professor, nós somos a pior sala, né”. Muito assustado, respondi: “não, claro que não. Eu adoro dar aula nesta sala. Vocês são ótimos”.

Não sei dizer quando houve essa passagem. Não percebi como o convívio tempestuoso virou um prazer. Mas assim é a vida. Por algum motivo qualquer, mesmo com um começo ruim, não fechamos as portas uns para os outros. Nós nos demos outra chance e, com isso, aprendemos uns com os outros.

Muitas e muitas vezes esse tipo de coisa ainda vai acontecer nas nossas vidas. Vocês estão partindo para uma nova etapa. É até brega dizer isso, mas de fato é um mundo novo. Tudo muda tanto e nem sempre as coisas funcionam como a gente quer. Mas essa lição que eu guardarei de vocês: as vezes é preciso dar tempo para que as coisas se encaixem e rendam bons frutos.

Tudo de bom pra vocês. Vocês foram ótimos, seus pestes.

E lembrem-se: não confiem em mim!